No interior do Oriente

Ásia, sexta, 12 de julho de 2019.

por Hosana Seiffert

Finalmente chegou o dia. Acordamos cedo e pegamos a estrada. Os quilômetros percorridos foram deixando para trás as cenas estereotipadas de ruas lotadas, buzinas e trânsito caótico. Em poucas horas a paisagem era totalmente diferente das grandes metrópoles. Entramos em uma área que eles chamam de “floresta”. Nosso motorista se divertia ao contar histórias de animais selvagens que passavam pelas estradas estreitas que iríamos enfrentar.

Quando de fato deixamos a rodovia e encaramos as pistas que cortam a floresta, entendi o que ele queria dizer. Não vimos animais selvagens e nem era preciso. O coração quase desfalecia a cada curva com ultrapassagem em mão dupla. Parece que à medida que a estrada ficava mais estreita, o motorista aumentava a velocidade. Os carros na direção contrária chegavam até o limite de milímetros antes de uma colisão frontal e então desviavam para a esquerda ou para a direita. Pareciam querer desafiar a lei da física que diz ser impossível dois objetos ocuparem o mesmo espaço ao mesmo tempo. Naquele momento concluí o que já vinha constatando há uma semana: aqueles motoristas são os melhores do mundo!

Enfim, chegamos ao nosso destino. Uma vila de agricultura familiar, como a maioria dos locais na Ásia, extremamente populosa. O local foi ocupado por descendentes de escravos trazidos da África por portugueses. São considerados um povo com língua e costumes próprios. Ainda hoje a cor da pele e a condição histórica os deixa à margem da sociedade.

A região também é marcada por dezenas de monastérios de budismo tibetano. Visitamos o maior deles, onde havia uma cerimônia. Para chegar ao templo é preciso subir uma grande escadaria e, antes de entrar, você deve tirar os sapatos. Fiquei impressionada com a imagem: um mar de homens vestidos com mantos de cor vinho e cabelos raspados. Fiquei parada, observando. Enquanto o sacerdote falava, muitos mexiam no celular, outros saíam para navegar atraídos pela tecnologia. Tantos faziam isso que chamou minha atenção. Lembrei das salas de aula no Brasil. “Gente sendo gente”, pensei.

Saí de lá curiosa e fui pesquisar sobre o budismo tibetano, uma vertente do budismo conhecida por apresentar um maior caráter místico. Para eles, há uma forte relação entre os seguidores e os mestres ou lamas, como são chamados no Tibete. As cerimônias são marcadas pelo exercício de meditações profundas, feitas em grandes rituais, como o que vimos, que incluem a leitura de textos litúrgicos. Para os seguidores, o budismo é uma forma de chegar ao conhecimento profundo da natureza humana interior, que seria a sabedoria. Fiquei pensativa: não importa a cor da roupa, a forma de meditação, a arquitetura do templo ou a cultura. De fato, “só o temor de Deus é o princípio da sabedoria”, diz Provérbios.

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