Vrindavan, a Cidade das viúvas

por Zê

Hoje em Agra o dia amanheceu frio e acinzentado. Percorremos um caminho de 60 km até chegarmos em Vrindavan, conhecida como “Cidade das viúvas”. Havia um silêncio profundo dentro do carro. Uma mistura de sentimentos no coração. Talvez alguém pergunte: “o que há de especial nesse lugar, o que nos espera ao chegar lá?”

O que nos espera, além do frio, é uma cidade entristecida, aprofundada nas mentiras do Inimigo, o qual tem feito isso há 5 mil anos. Uma cidade sem cor, sem crianças brincando na rua, uma cidade onde não há sorrisos, muito menos esperança. Uma cidade que desperta as viúvas às 4 da manhã, uma cidade que as obriga a ter uma vida de adorações em troca de um prato de arroz.

Posso ver em seus corações quanta saudade de casa, do cheiro do filho, do seu abraço; saudade de quando ele a chamou de mãe pela primeira vez; saudade de comer chapati (uma espécie de pão feito da farinha de trigo, parece uma panqueca), de comer arroz, lentilha… saudade de tomar um banho; saudade de casa – talvez até morasse na casa da sogra, mas tinha uma casa.

E hoje são despertadas antes do amanhecer com chuva ou sol, frio ou calor. Sua obrigação é se levantar. Não para adorar, mas para trazer lucro à pequena Vrindavan. Essas mulheres estão presas nas mãos de homens corruptos, são violentadas na mente, na alma e no espírito e, muitas delas, fisicamente. Sem levar em conta sua idade ou saúde, o dinheiro (ah, ele!) sempre fala mais alto. É assustador! Revoltante ver, ouvir e sentir a condição de vida dessas mulheres.

Hoje entramos no Asharan (templo de adoração), lugar onde essas mulheres se reúnem todos os dias. Pagamos um guia para que pudéssemos ter a oportunidade de tirar fotos lá dentro. Quando entramos elas estavam no momento da leitura de seus livros do hinduísmo.

Ao tentarmos tirar fotos fomos impedidas pelas próprias viúvas. Saímos daquele lugar e fomos levadas ao anexo ao lado. Lá nos esperava um “guia espiritual”, também conhecido como o “mafioso Raj”. Raj é um homem cheio de mentiras, que fala em tom baixo, tem os olhos tristes e muito trabalho a fazer, várias pessoas a alimentar (afinal são 2.000 viúvas; 400 sadus – considerados “homens santos do hinduísmo”; 500 vacas). Todos sob sua responsabilidade. Uau! Que homem é esse com tanta responsabilidade? Esse homem, não só ele, mas muitos outros também, são usados para trazer angústia, tristeza e dor ao coração das viúvas. Tudo ali é dinheiro, cheiro de morte e de dor. Um lugar escuro, que se perdeu nas mentiras e desilusão.

Eles, os Raj(s) de Vrindavan, controlam aquele lugar. Eles têm olhos em todos os lugares. Muito dinheiro entra naquele lugar, dinheiro e muita maldade. Homens cheios de justiça própria, que repartem entre si o dinheiro que foi pago às viúvas, gastando ao seu bel prazer.

Mas posso ouvir dos altos céus, eu posso ouvir o Senhor dizendo: “a quem enviarei, quem há de ir por nós”. A minha resposta sempre foi: “eis-me aqui Senhor, pode contar comigo”. Espero que essa também seja a sua resposta, você pode contribuir, orar e até mesmo vir. Há muito a fazer!

Tags

top